Um relato sobre o 2º Calaguala Jazz Festival

por Vivian Smith

Shows em 3 de fevereiro, sexta-feira, no Museu Atelier da Barra do Chuí (Brasil)

Numa noite surpreendentemente estrelada e sem vento, após um dia chuvoso, cerca de 400 pessoas estiveram presentes num grande ambiente definido por todos como “mágico”. O belo paisagismo e obras de Hamilton Coelho estavam iluminados em tons de verde e azul, o público bem acomodado em mesas e cadeiras, o bar ao fundo, atrás de um balcão peculiar feito de um grande tronco de madeira devolvido pelo mar e resgatado pelo escultor há alguns anos.

Na linha de frente um grande palco acolheu três diferentes formações de músicos: Leonardo Ribeiro e Giovanni Berti (Porto Alegre, Brasil) iniciaram com uma oficina-show de samba, fazendo um recorrido da história do samba, seus diferentes gêneros, como o maxixe, samba-enredo, samba-canção e bossa nova.Os músicos Cláudio Sander e James Liberato fizeram uma participação especial. Depois, o grupo uruguaio Sale Com Fritas (La Paloma), composto por Marcelo Bianco (teclado), Marcos Muniz (contrabaixo acústico), Luciano Ferro (guitarra) e Joaquin Charruti (percussão) apresentaram standarts do Jazz e alguns temas próprios, temperados por tambores de Candombe e demonstrações de virtuosismo dos instrumentistas. O grupo Quartcheto (Porto Alegre, Brasil) arrematou a noite com músicas dos seus dois cds, integrando ritmos regionais gaúchos e platinos, como o vanerão, a chacareira e o chamamê, a belas melodias e à característica fundamental jazzística: a improvisação a partir dos temas. Compõem o grupo os músicos Luciano Maia (acordeon), Júlio Rizzo (trombone), Ricardo Arenhalt (bateria) e Leandro Rodrigues (violão), substituindo competentemente o parceiro Hilton Vaccari, que não pôde comparecer.

Shows em 4 de fevereiro, sábado, em Punta del Diablo (Uruguai)

Desde o final da tarde, densas nuvens e relâmpagos ameaçavam o evento ao ar livre, no centro da praia em que se tem a impressão de estar na década de setenta. Alheios a isso, artesãos seguiam vendendo roupas coloridas e bijuterias, a praia rochosa e de águas transparentes se coloria de tons vermelhos e púrpura no por do sol de carregadas nuvens negras, o futebol na beira do mar não deixou de acontecer. Os restaurantes de todos os tipos enchiam-se de gente, e pessoas foram se concentrando diante do palco com a faixa do festival e seus patrocinadores.

Além das muitas pessoas que vieram da Barra do Chuí para assistir também ao segundo dia, inúmeros turistas de várias nacionalidades pararam ali e se mantiveram atentos e entusiasmados até o final do último show da noite. Seja por sorte, pelas orações e apelos a todos os santos e orixás, ou pela força de tanta gente que apostou no sucesso desta integração musical, não caiu uma só gota de chuva, e ainda se pôde apreciar os incríveis efeitos especiais dos relâmpagos no fundo do palco durante toda a duração dos shows. Desta vez o evento foi aberto pela oficina-show da dupla uruguaia Berta Pereira (vocais e percussão) e Pollo Piris (guitarra e percussão), que fizeram uma apresentação de candombe poderosa e encantadora que repercutiu profundamente nas emoções do público presente. O brasileiro Cláudio Sander (sax alto e tenor) trouxe uma seleção de músicas de seus três CDs, que incluiu tanto temas próprios como músicas consagradas da MPB e do Jazz, acompanhado por New (teclado), Everson Vargas (baixo), James Liberato (guitarra) e Ronie Martinez (bateria). Contou ainda com a participação de Leonardo Ribeiro (guitarra) e Giovanni Berti (percussão), juntando a concepção jazzística com a energia e alegria da música brasileira. O (originalmente) Mincho’s Manuche Jazz Duo (Castillos, Uruguai) dos violonistas Martin Mendez e Stefan Decuadro veio acrescido pelo contrabaixista acústico Facundo e pela clarinetista argentina Paloma Schachman, com clássicos do jazz tradicional e do jazz cigano executados com maestria, encerrando com a participação da excelente e performática cantora argentina Valeria Cini.

Fotos: Rogério do Amaral Ribeiro